Artigo: A verdade e a confiança como valores competitivos * Por Sr. Gentileza.


Falar de confiança é difícil quando as pessoas têm opiniões divergentes sobre ela. Cada um confia de alguma forma em alguém ou em algo. A confiança pode ser construída ou conquistada com o tempo, pode ser adquirida de acordo com atitudes e ações que dão credibilidade e estruturam uma relação, seja ela pessoal, profissional, emocional ou espiritual. 
Assim sendo, qual será o nível de confiança que as pessoas ou a empresa em que trabalha têm em você? Já parou para se questionar? Deve ser algo sublime, leve e que norteia o contato direto com o outro. Esse outro sujeito, por sua vez, tem que corresponder e manter esse predicado de forma que não se quebre com o tempo. Tal como uma pedra preciosa, se rompida ou quebrada, inquestionavelmente não recuperará sua forma original. 
Por mais que algo se esforce para recompô-la, dificilmente o conseguirá. Nem todo o esforço do mundo será capaz de reconstituir – reconstruir a confiança, pois esperamos sempre que as pessoas ajam conforme nossas próprias atitudes. Refletir nos outros nossos hábitos e costumes, personalidade, caráter é uma tarefa que nos leva a refletir sobre o que somos, queremos ou desejamos. 
Como ninguém é igual a ninguém – impossível a perfeição na semelhança – entramos em conflito com uma reação negativa. A confiança, assim, é questionada e duvidamos da idoneidade do “alguém”, de algo que até então conhecíamos e tínhamos a certeza de que sabíamos a sua essência. Definitivamente não conhecemos ninguém, talvez não saibamos administrar nossas próprias fraquezas, não possuímos habilidade para gerir os pensamentos e sentimentos – sofremos; sofremos por querer algo parecido com a gente, alguém que aja com semelhança, algo que reflita nossa própria vida. 
Mas, no mundo corporativo não é assim que a coisa funciona, pelo contrário, a competição interna e a rivalidade nos direcionam para uma realidade que nos faz desconfiar de tudo e todos. Quem sabe isso seja falta de opinião própria, ausência de amor próprio, falta de confiança, nenhuma auto-estima? Estão vendo? O conceito de confiança é muito relativo, sublime, oposto de tantas teorias, incapaz de ser decifrado. Confiança, prima distante da omissão, madrasta da mentira – relações ambíguas que não se unem, como o óleo misturado na água; parece que estão unidos, mas em frações se separam. As pessoas se separam também por conta desse antagonismo e associam a omissão à mentira. 
Dizem que não existem nem meia mentira, muito menos meia verdade. Tudo leva à quebra-de-confiança. Dessa forma eu concordo com isso: se perder a confiança, tudo se esgota: qualquer relacionamento se torna duvidoso, qualquer amizade questionável e nenhuma explicação ou justificativa vai convencer do contrário. Inclusive a confiança que era depositada em algum líder, gestor ou colega de equipe.
Quando não acreditamos em alguém ou em algo, fica muito difícil seguirmos nosso caminho com resignação e alienação aos fatos. Queremos, o tempo todo, monitorar e entender o porquê de muitas coisas. Numa época em que tanto se fala de assédio moral e “bullying”, esses profissionais (que não expiram confiança) já deveriam ter se conscientizado sobre a importância de ser verdadeiro com o seu companheiro de trabalho. 
O que será mais importante: a competência ou a personalidade? Quais são os requisitos necessários para considerar alguém como “talentoso”? Ter comprometimento, ser eficaz nas tarefas, cumprir o manual de normas e condutas da empresa e dominar a rotina técnico-operacional da função? E os requisitos para ser uma pessoa de “personalidade-forte”? Ah, esse predicado sim merece relevância. Essa pessoa é aquela que diz sempre tudo na hora que bem entende, não “guarda do almoço pra janta”, não se sensibiliza com os outros, é diretivo-reativo e, principalmente, consegue separar bem a vida pessoal da profissional. Essa é a mentira que convivemos todos os dias. Além de ser totalmente admissível (ainda) é de uma profunda hipocrisia considerar como importante e mais valioso pessoas que se dizem com uma personalidade forte. 
No meu tempo personalidade forte significava – não se abater diante dos problemas, ser franco, saber respeitar o próximo, ser flexível, perfeccionista e admitir que pode estar errado em alguma coisa; palavrões e ataques de fúria (coitadinho) não são predicados qualificáveis para se atribuir à uma personalidade. Esses últimos são defeitos e fraquezas de pessoas que, por herança ou nascença, são mal educadas. 
Essa verdade hipócrita – ou mentira verdadeira – é a máscara utilizada por profissionais e gestores que insistem em coibir e coagir a ação de “colaboradores-parceiros-de-trabalho” na tomada de decisões e formas de expressar o que sentem. Nem percebem que podem colaborar para o bem estar de alguém ou deveriam ser o modelo de liderança. Quantos de nós já nos reportamos a algum líder pra pedir ajuda em alguma situação problemática e fomos recebidos com agressões verbais e humilhantes? Não pensem que essa cena não existe mais, pois ela ainda continua assombrando muita gente por aí. Esses profissionais “competentes e de personalidade forte” só existem porque ainda nos submetemos a eles. O medo de ousar e buscar uma nova posição no mercado permeia nossas vidas e impede com que façamos uma revolução em prol de condições melhores de trabalho.
Estamos contando mais uma mentira quando permitimos que esse tipo de coisa aconteça. Mentimos porque acabamos subtraindo novas possibilidades de transformação pessoal e profissional ou porque anulamos nossa auto-estima – nos sentimos incapazes de recomeçar e tomar as rédeas da própria vida. Não existe receita ou método para acabar com a mentira no trabalho. O que existe é deixar transparecer a necessidade de uma mudança, mesmo que seja necessário um empenho maior nessa busca por uma chance de realização. A disciplina, dedicação, empatia e amor próprio são itens inerentes de uma personalidade educada, pois nem sempre fortaleza é sinônimo de competência. 

LUIZ GABRIEL TIAGO – SR. GENTILEZA
assessoria@srgentileza.com.br

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