Artigo: A gentileza e a felicidade no trabalho * Luiz Gabriel Tiago, Sr. Gentileza.



A gentileza não é prioridade no cotidiano das pessoas pois a rotina e intensidade das atividades não permitem isso. Por exemplo, um profissional precisa estar atento as suas tarefas diárias além de resolver imprevistos, problemas e uma série de coisas não programadas. Sendo assim, “acha” que não tem tempo suficiente para atender a uma ligação cordialmente, agradecer por um favor prestado ou, simplesmente, elogiar o trabalho de algum colega. Essa escassez de gentileza não existe somente nas empresas. Muitas vezes somos hostis em casa, com nossa família e amigos. A rotina de pais, mães e filhos também é muito sobrecarregada, em especial para aqueles que se dividem entre casa versus trabalho e seus revezes frequentes.
É comum as pessoas esperarem que as outras tomem a iniciativa ou deem o primeiro passo para praticar a gentileza. Porém, o que muitos não sabem é que, ser gentil — em primeiro lugar — é uma ação individual e que, após sua disseminação, torna-se coletiva. Muitos alegam ter cansado de serem gentis, pois nunca recebiam nada em troca ou eram chamados de “bobos” ou queriam “aparecer”. Hábitos gentis geram mais cordialidade, humanização, relacionamentos saudáveis, harmonia e são sempre despretensiosos. Engana-se quem pensa em retribuição imediata, pois a gentileza é altruísta e não espera nada em troca.
A gentileza é um conjunto de predicados e valores que se juntam e transformam nossas vidas. Os mais importantes são aqueles que nos fazem pessoas melhores; num elenco temos a fé, solidariedade, respeito, tolerância, confiança, amor próprio, saber ouvir e bom humor — como fundamentais para a saúde mental, espiritual e material. Quando somos gentis, abrimos portas para o mundo de forma que o “peso” que carregamos fique mais leve. Esse conceito de gentileza abrange uma série de atitudes e ações que nos remetem a reflexão sobre o que podemos melhorar dentro e fora do nosso “quadrado”, e isso vale para nossa vida pessoal e profissional!
Existe uma relação muito estreita entre a felicidade e atos gentis. Quando praticamos algum tipo de gentileza, liberamos no organismo a serotonina, hormônio responsável pelo bem estar. Digo nas minhas palestras que o melhor remédio para a depressão é a caridade — valor tão escasso na nossa sociedade. Ao praticar o bem, literalmente “detonamos” o pessimismo e contribuímos para um mundo melhor. O ideal é não se preocupar com algum tipo de retorno, pois muitas pessoas se queixam que são gentis, mas ficam chateadas por não serem gratificadas de imediato. Isso não importa mesmo! A gentileza é não é egocêntrica e a recompensa vem do mundo e da alma. Existe coisa melhor que isso?
Quando somos tratados com respeito, é tendencioso que tratemos as outras pessoas com respeito também. O contrário também pode ser recíproco. Quando somos agredidos ou presenciamos atos grosseiros, é normal que não esqueçamos aquilo e agimos por repetição. Com o tempo, gestos de falta de educação e desrespeito se tornam parte da nossa rotina e, consequentemente, assimilamos e somatizamos em nosso organismo.
Bobos são aqueles que ainda não descobriram o potencial que as pessoas gentis têm. Essa ideia de “esperteza” é bem característica dos brasileiros, pois acreditam que sempre existe alguém que vai “passar a perna” e que o mundo é dos “espertos”.
Os tempos mudaram. A hora é de mudanças e não mais de reflexões. Conjecturar sobre o que está errado não resolverá os problemas que deverão ser sanados em sua causa, não em seus sintomas.
Ser gentil é estar conectado ao mundo através das pessoas e seus valores. Trocando em miúdos, vivemos numa época em que o lado positivo deve ser levado em consideração com mais força e não mais os aspectos negativos. Qualidades e defeitos devem conviver no mesmo espaço, mas o que as pessoas têm de bom deve pesar mais na hora de uma decisão ou interpretação.
Ser gentil com o próximo significa — desde atos simples a complexos — responder a cumprimentos, agradecer, sorrir, retribuir e ir além surpreendendo as pessoas com um copo de água, elogios, respeito e tolerância.
Será que é romancear demais e acreditar no impossível? Gentileza não é utopia. Gentileza é prática.
Por exemplo, cumprimentar a todos com um ‘bom dia’ já é um bom começo. Agradecer cada favor prestado e ainda adotar o ‘por gentileza’ ao pedir qualquer coisa, já ajudam.
A mudança de comportamento através da prática da gentileza é notável. Geralmente as pessoas ao redor começam a perceber que há algo diferente. Sua prática promove bem estar emocional, satisfação e sensação de realização.
Com o passar do tempo, torna-se rotineira e parte do dia de todo mundo. Assim, como qualquer um, começamos a nos desafiar. As pessoas pensam em outras maneiras de surpreender os outros e usam a criatividade para isso. Ser gentil é estimulante, agrega coisas boas e faz bem à alma.
Precisamos (re)significar nossas vidas e entender, de uma vez por todas, que os valores humanos são importantes e determinantes para o sucesso pessoal e profissional. Afinal de contas, como ser pleno e feliz sem considerá-los? Deixemos que as pessoas ‘ocas’ ou desprovidas de emoção se auto excluam e se toquem de que, um dia, precisam ser ‘gente’ novamente.
Como defendo a prática gentil como um hábito para que realmente faça parte da nossa rotina diária, acredito que possamos transformar alguma coisa, nem que seja nossa consciência em primeiro lugar (já seria muita coisa).
A primeira forma de treinar a gentileza é mudando nossas atitudes. Nos treinamentos que realizamos nas empresas usamos e abusamos das dinâmicas e jogos reflexivos em grupo para que aconteça um confronto de ideias e posturas. Os participantes ficam frente a frente com a realidade deles e podem enxergar o que está faltando para a prática da gentileza — lembrando que ela (a gentileza) é um órgão imaginário, então existe dentro de todos nós, basta achá-lo e deixar que funcione. Em uma dessas atividades, fazemos um exercício que nos remete ao contrário da gentileza — a hostilidade. Os participantes, individualmente, se chocam quando descobrem que são hostis sem perceber no seu cotidiano e decidem, a partir de então, mudar seu comportamento. Na vida tudo é questão de treino e consciência!
Vivemos numa sociedade carente de valores e encontrei na gentileza a porta de entrada para a plenitude que todos buscam. Entendo que um ser humano pleno é aquele que concilia todos os seus ‘mundos’ — pessoal, profissional, emocional e sentimental. Ser gentil significa se apoiar em valores e predicados, colocando-os em prática através de gestos simples, espontâneos e despretensiosos.
Minha missão de vida resume-se a promover essa reforma pessoal através dessa norma de conduta chamada gentileza, baseada em solidariedade, respeito e tolerância as diferenças. Nos últimos anos estive com pessoas que acreditaram nisso e transformaram suas vidas, pois decidiram priorizar o lado bom das coisas, as qualidades dos outros e estender a mão a quem precisar. É através de atos gentis que chegamos ao ponto mais nobre da dignidade e, não importa se em casa, no trabalho ou com estranhos, nossa contribuição à sociedade deve ser dada sem esperar nada em troca.
Minha recompensa como profissional, dedicado as pessoas, em empresas de todos os portes e segmentos (além do combate à fome), acontece quando escuto ou leio depoimentos de superação e de como as pessoas recomeçaram suas vidas através da prática do bem. A gentileza traz leveza ao nosso dia a dia, nos inspirando a continuar com bom humor, sorrindo e suavizando o ambiente onde estamos. As pessoas percebem a mudança e influenciamos até os mais resistentes.
Confiar nos outros é um sinal de que os tempos podem mudar e a nosso favor. O mundo é descrente, quer paz, cordialidade e delicadeza. Gentileza gera confiança, harmonia e transporá a hostilidade e egoísmo que existem nele.
Luiz Gabriel Tiago, Sr. Gentileza

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