Existem aspectos culturais que marcam as
diferenças entre brasileiros e americanos, por exemplo. No que diz respeito a
abraços, beijos e outras formas de carinho em público, somos conhecidos pela
espontaneidade e calor humano marcantes.
Nosso povo que, praticamente sem
distinções, de Norte à Sul, demonstra afetividade e acolhimento desde o início
e isso se deve a fatores culturais, inclusive por causa da nossa colonização.
Em seu livro “Raízes do Brasil” (1936), Sérgio Buarque de Holanda, classificou
o brasileiro como o “homem cordial” e ainda afirma que “a contribuição
brasileira para a civilização será a cordialidade”.
Fomos colonizados por portugueses que são
bem diferentes dos ingleses. Além disso somos uma ‘mistura’ de negros,
indígenas e colonizadores. Até hoje o continente africano é rico em
diversidade, incluindo o espírito ‘festeiro’ e feliz, apesar de todo o
histórico de escravidão, segregação e fome. O resultado de tudo isso não
poderia ser diferente: brasileiros extrovertidos e cheios de hospitalidade.
Tenho uma visão bastante otimista em
relação ao nosso comportamento cotidiano. Nós, brasileiros, ainda acreditamos
no ‘toque’, ou seja, fazemos questão de demonstrar afeto e respeito as pessoas
de forma calorosa, respeitando salvas exceções, claro. Não acredito que
percamos esse jeito bem característico por causa das mídias sociais e outros
avanços tecnológico-virtuais.
Temos um apelo muito forte, somos muito
emotivos e fomos criados dessa forma. As redes sociais têm seus revezes e é
fato que a geração mais jovem usa boa parte do seu tempo em conversas
instantâneas, mas todos os dias vemos casos de pessoas que começam
relacionamentos amorosos e acabam se conhecendo pessoalmente. A tecnologia
jamais substituirá o toque, o aperto de mãos e abraços (mesmo que leves, porém
sempre cordiais).
Atribuo a falta de calor humano nas
empresas a outros motivos e não à internet: as metas que devem ser cumpridas,
resultados a conquistar, pressão, cobranças e a hostilidade. Os profissionais
não têm como prioridade a troca de gentilezas. Inclusive, no meu livro
“Gentileza no Trabalho” (2012), destaquei a importância da inserção desse
predicado nas rotinas e processos no ambiente corporativo. É muito mais humano
e saudável (re)aprender a lidar com os outros através do respeito, tolerância e
confiança. Os tempos mudaram e ninguém suporta mais a falta de boa educação no
trato ou ausência de qualquer valor. Não basta terceirizar essa
responsabilidade. É preciso começar a pôr em prática questões como essa e a
iniciativa é individual e não coletiva.
Conheço vários gestores e até diretores de
empresas (em todo o país) que fazem questão de externar seus sentimentos seja
em forma de abraços, apertos de mão ou beijos. Nesses casos deve existir o
discernimento para distinguir o que é forçar uma intimidade e um simples gesto
de carinho – sem perder o profissionalismo. O que seria certo: coibir
demonstrações de afeto singelas ou considerá-las gestos de respeito e até mesmo
gratidão?
Luiz Gabriel Tiago @srgentileza
Escritor, palestrante e fundador do Movimento Pontinho de Luz
Indicado ao Prêmio Nobel da Paz 2018 e 2019
Contato: assessoria@srgentileza.com.br
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