Texto: Presentear é um ato de gentileza * Luiz Gabriel Tiago (Sr. Gentileza).

O ato de presentear representa muito – tanto para quem dá quanto para quem recebe. Trata-se de um conjunto de sentimentos e emoções desde o momento que procuramos algo para comprar (ou fazer com as próprias mãos), que tipo de embrulho vamos usar e até o instante da entrega.
Qualquer presente, desde o mais simples até o mais sofisticado, tem o poder de materializar uma intenção, seja uma forma de agradecer um favor, de parabenizar por alguma data ou feito extraordinário ou, simplesmente, de praticar a gentileza espontânea e sem motivos especiais.
Muitas vezes quem oferta o presente se sente mais recompensado do que quem recebe. O cérebro, nesse instante, dispara no organismo alguns hormônios como serotonina e endorfina, que são responsáveis pelo bem estar. Essa carga de emoções positivas acontece em ambas as partes. Trata-se de um gesto singelo, mas com efeitos incríveis pois sensibilizam e nos inspira a retribuir.
O falecido Profeta Gentileza (José Datrino, 1917-1996) em uma das suas máximas, dizia em suas pregações nas ruas do Rio de Janeiro: “- Gentileza gera gentileza”. Isso se dá porque todos nós temos um neurônio chamado de “neurônio espelho”, que estimula a repetição de atos como o bocejar e demonstrações de carinho. Na correria que vivemos, presentear as pessoas representa muito, pois é uma das formas de demonstrar respeito, carinho e apreço ao próximo.
A pessoa que recebe um presente sente-se valorizada independente de ser uma data comemorativa (aniversário, namorados, mães, pais, etc.) pela singeleza de ter sido lembrada. A surpresa em receber algo provoca sensações intensas e tem um significado ímpar.
Alguns presentes são bastante representativos para os brasileiros como os que têm aromas e texturas. Perfumes, loções e maquiagens formam uma das preferências femininas. Acredito que fiquem somente atrás do vestuário, mas são sempre bem vindos e despertam a autoestima, as vezes adormecidas pela rotina profissional ou compromissos domésticos.
As essências e cremes (utilizados por homens também) provocam o que todos nós temos de melhor: o amor próprio, zelo e cuidado pessoal.
Todos nós gostamos de ser lembrados através de presentes que renovem a beleza ou definam nossos traços de vaidade. Eles (os presentes) chamam a nossa atenção para nós mesmos e refletem quem realmente somos.
Qualquer presente sempre vem embalado com intenções de agradar, afagar e, principalmente, de surpreender. Ter cuidado com a embalagem, com o laço e o cartão são sinônimos de preocupação e apreço a quem será ofertado. Digo isso pois considero a intenção a principal responsável pelo sucesso do gesto. Nem sempre agradamos pois não depositamos na iniciativa de presentear alguns valores como o prestígio, dedicação e capricho.
De acordo com o Aurélio, a palavra “presente” significa “aquele que permanece” - no sentido de “estar em algum lugar” ou “mimo, oferenda, dádiva” - quando relacionados ao ato de oferecer algo a alguém. Ambos os casos têm ligações estreitas pois um “mimo” ou “paparico” permanecem dentro da gente, ficam, se instalam – em definitivo.
Aproveitando esse trocadilho e enfatizando a dimensão da intenção, qualquer presente fica registrado na nossa memória, trazendo leveza e suavidade, podendo ser lembrado para sempre.
O ato de presentear significa trazer poesia à vida de alguém, desde um bilhetinho ou buquê de flores até uma joia. Os seres humanos vivem em busca de relacionamentos e ferramentas que facilitem isso. Esquecemos de manter vivo o convívio com colegas de trabalho, amigos e parentes, pois priorizamos outras coisas mais práticas como trabalhar, dirigir, ir ao supermercado e pagar as contas. Ou seja, deixamos de acender as relações com aqueles que já são próximos e nos preocupamos com a rede de contatos que não temos, para satisfazer outros interesses. Por exemplo, dedicamos boa parte do tempo em ampliar o número de seguidores no Instagram ou LinkedIn para termos melhores oportunidades na carreira futuramente.
A gentileza é um predicado que está dentro de cada um de nós. Basta uma fagulha para ser despertada e, quando isso acontece, envolvemos quem está ao redor. Presentear pessoas próximas é um ato de gentileza sim e pode mudar o dia de quem recebe! Para isso, não precisa ter requintes na escolha, mas ser bastante exigente na vontade e criatividade na hora de ofertar. Sentimento é tudo. Intenção é indispensável. Criatividade é condição.
A sensação de presentear é melhor do que a de receber. Surpreender alguém com uma lembrança inesperada e sem data comemorativa é mais gratificante ainda. Nesses gestos a gente transfere nosso sentimento de afeição em dose dupla, pois esperamos que a reação do presenteado seja de acolhimento.
A aceitação é esperada da mesma forma que uma criança quando abre um embrulho: surpresa, alegria e um sorriso escancarado. Extrapolar as emoções provocam algo como um “foguetório” interior, se assemelhando à uma explosão de satisfação pessoal.
Dar é mais do que receber. Entregar algo é como se entregar literalmente.
O relacionamento humano está em crise na nossa sociedade. As pessoas se toleram por protocolo ou por conveniência, já que o padrão de comportamento diz isso. No trabalho somos convencionados a cumprimentar por boa educação, a dialogar por procedimento e a conviver por necessidade. É natural que seja dessa forma, pois todos os dias passamos horas reunidos em grupo, mas com o objetivo comum de produzir e alcançar resultados. Ser gentil deixou de ser prioridade, aliás, talvez nunca tenha sido. Produzimos manuais de procedimentos, cartilhas com direitos e deveres, e nenhuma delas induz à necessidade de “enxergar” o que os outros têm de melhor.
Em nosso programa de Consultoria em Gentileza Corporativa, incentivamos a prática da doação entre os participantes. Isso significa que os profissionais que capacitamos devem se habituar a fazer elogios (e torná-los públicos em cartões, post-its e cartazes), trocar cartões com frases de efeito positivo, agradecer favores prestados e se disponibilizarem a dividir tarefas. Percebemos que, com o tempo, essas atividades se tornam simples demais (bem rotineiras) e eles extrapolam através de presentes, bombons, flores, livros e porta-retratos com fotos deles no trabalho. Hoje incluímos as selfies no nosso programa pela praticidade e imediatismo do celular. Eles trocam entre eles e ainda postam em grupos nas redes sociais que criamos especialmente para o projeto.
Essas atitudes quebram a rotina rígida e suavizam o ambiente profissional e acabam levando a ideia para casa. A multiplicidade da Gentileza é vista nesses efeitos que surpreendem e motivam a quererem continuar.

Ser gentil é simples e servir ao próximo também. Como em qualquer presente que damos, o importante é querer ofertar, se empenhar para que a aceitação aconteça espontaneamente e, claro, acreditar que o que vale é a intenção. O presente, independente do seu tamanho ou valor, fica, permanece.

Luiz Gabriel Tiago - Sr. Gentileza

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